Um homem conhecido e reconhecido como um referencial para esta geração, entre cristãos e não cristãos, líder de um público fiel de milhões de pessoas.
Como pôde pôr em cima da mesa sua reputação, passado, credibilidade, discurso e o peso de sua palavra em prol de uma campanha política? Qualquer que fosse o partido: vermelho, azul, verde, amarelo... seria igualmente vergonhoso, não haveria justificativa. Não há argumento no campo da ética, bom-senso e licitude que justifique uma postura assim.
Como se pode conceber a união entre a história deste orador evangélico e a de um partido político?
Mas o pior de tudo é que o homem de paletó está, no imaginário popular – principalmente o evangélico, reconhecidamente um dos mais manobráveis - umbilicalmente ligado à Palavra de Deus.
Aqui está o grave erro. Um jogador de futebol, ao fazer campanha para um candidato, estaria levando consigo para a TV a imagem do esporte e de seu clube. Já um pastor carrega a imagem de sua igreja e, principalmente, da Palavra de Deus.
Ainda que o homem de terno não quisesse, ele não poderia fazer campanha sem que sua imagem estivesse implicitamente atrelada à Palavra de Deus. É impossível dissociar estes dois elementos. Isto se chama responsabilidade. Ser responsável com a imagem que carrega. Isso é o que o homem de roupa importada não fez.
E ninguém, absolutamente ninguém, poderia sequer pensar no disparate de utilizar a Palavra de Deus para ganhar votos para quem quer que seja.
O que o palestrante está fazendo nada mais é do que um golpe político de baixíssimo nível. Um expediente vergonhoso. Não porque um formador de opinião está pedindo votos para quem quer que seja, mas porque um formador de opinião cujo respaldo está em propagar a Palavra de Deus submeteu sua história e o que ele representa ao submundo da política e ao que ela é. E nós sabemos como ela é. O palestrante sabe como ela é.
Por que arriscar tudo o que este homem significa em nome de uma eleição? Aqui mora o perigo: na resposta a essa pergunta.
O que lhe ofereceram em troca deste apoio vexatório? (...) Sei que sua mente voou longe neste instante. A minha também. E a do homem engravatado mais ainda, no momento em que essa lamentável aliança foi formada, em alguma mesa de negociações instalada no centro do poder político de nosso país.
Em mesas idênticas a essa, mudando apenas o formato – redonda ou retangular – e o aperitivo - café, vinho ou champagne – são negociados os conchavos políticos, mais ou menos deploráveis, as divisões de cargos, as trocas de influência, as propinas...
Sobre essas mesmas mesas é que as malas do poder são abarrotadas.
“Viajei”? Você sabe que não.
Cabe, sim, o protesto, mas não para condenar, e sim para chamar a atenção: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia” (I Co 10:12)
A Mala Falha. Mas quem não falha, nesta ou naquela área, em maior ou menor grau? No mesmo instante, a cada vez que nos nossos auditórios, por trás de um microfone, se levantar uma voz, não custa lembrar de Jesus: “sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas”. (Mt 10:16). Não fomos chamados para sermos seguidores de homens, mas do Filho do Homem.