sexta-feira, 27 de maio de 2011

A EDNEY, UM ABRAÇO NO RAMO PODADO

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Meu amigo,

Ainda sinto seu abraço. Aquele que você me deu em fevereiro de 2007, quando aqueles acontecimentos tristes sobrevieram sobre meu mundo e, na verdade, o mundo de cada um que estava perto de mim.

Liguei desnorteado. Que bom que você não deu nenhum norte naquele momento. Você não tinha. E quem tinha? Eu e meus amigos precisávamos de um seco tempo de deserto. De poda. Para voltar a dar frutos depois de muito sofrimento.

Seus abraços, cada um deles que marcou nossa amizade, eu não os esqueci.

Engraçada nossa relação. Nos vemos tão pouco, nos falamos tão pouco, mas de vez em quando, entre contratempos e ausências, rola aquele abraço meio que paterno, meio que de irmão mais velho, que faz voltar o carinho ao status quo ante, como se o tempo não tivesse passado. Minha noiva, a Tati, sabe que sou assim com raríssimas pessoas

Quero te dar um abraço de novo. Você precisa mais do que eu nesse momento

Sabe, amigo, imagino tudo o que passou nesse tempo. E o que passa agora.

Desejo que você esteja cercado de afeto. Que não faltem os abraços de sua comunidade, daqueles que reconhecem em você a missão de sua vida. Você nasceu para pastorear. E pastoreia. Esses abraços consolarão você enquanto o céu não se abre novamente para cair aquele velho maná.

Por que você esta sendo podado? Por que passar por tanta dor, se os frutos estão vistosos? Exatamente para que você dê mais frutos ainda. O Pai é o agricultor, O Filho, a videira

Ôh ramo Edney, aguenta firme. A poda não é eterna. Se necessário, o agricultor vai amarrar uma cordinha e dar um nó forte pra você não se separar da árvore. Ou vai colocar uma madeira, do chão até você, ramo, te deixando um pouco mais tranquilo, pra que não caia. Cordinhas e madeiras são Rosanas, Joões, Marias. São pessoas, o grande milagre.

Queria dizer como diz meu cantor favorito: “embora não pareça, a dor vai passar” ou como diz um amigo meu: “tudo passa”.

Vai passar. Os frutos serão frondosos novamente. E aquele seu sorriso escancarado vai voltar, sem a ponta de tristeza que te denunciava nesses últimos tempos.

Ainda quero dizer que esta carta não é um manual de conselhos, mas um mero testemunho. De olhos marejados, digo: eu passei por isso. Só nessa semana me dei conta de que tudo o que vivi foi uma poda. Que bom, pois posso dizer isso a você hoje. Não foi um corte, muito menos uma punição por pecados cometidos. E tenho uma história alegre para contar.

Amigo, cuide das ovelhas de Cristo que estão ao seu redor, sob seu cuidado e responsabilidade. Cuide dos seus sentimentos (seus e delas). Em abraço coletivo, não deixe que nenhuma se perca, escapando por baixo da roda de oração e lágrimas.

Ah, as lágrimas. Foram muitas as minhas ao ver corações entusiasmados, há quatro anos, se despedaçando para até hoje nunca mais de reencontrarem ou se ter notícias de seus cacos. Doe. Seco, ressecado, não sei se pude fazer muita coisa. Mas hoje vejo que o pouco é muito.

Este Edilson redesenhado, refeito e podado, diz, em honra ao Agricultor e à Videira, que aprendeu muitas lições que só a poda no deserto pode elaborar. Meu coração, que por tempos esteve enlutecido, ressentido e pesado, hoje está livre para gerar frutos. Perdoei. Pedi perdão, e sigo pedindo, a todos quantos magoei, mesmo que algumas ou muitas de minhas intenções naquele tempo de luta e angústia tenham sido nobres.

Aprendi em velórios: será que hoje vale a pena lutar contra pessoas, se amanhã podemos estar no funeral delas? Ou elas no nosso?

Por isso, amigo ramo, continue se doando a pessoas. Inspire-as a amarem a Cristo, mais que a causa de Cristo, para que nunca mais ninguém, quem quer que seja, posicione causas acima de vidas, rixas institucionais ou conceituais acima de corações de carne que podem sim parar de bater.

Culpados? Se pensarmos com calma, talvez todos sejamos, não é mesmo? Onde mora a coerência? Quem carrega a exatidão? Mais urgente é cuidar, amar, perdoar, reconstruir, sanar qualquer culpa ou mágoa, enfim, “ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus”, “a mente de Cristo”, pois basta a nós sermos como Ele.

Ao imaginar sua tristeza e talvez fragilidade emocional nesse momento, quem sabe ainda tenha que dizer, para sua saúde como cuidador de vidas: não deixe que as pessoas o façam de videira. Aponte sempre para a fonte inesgotável, para a Videira. Vá com as pessoas até a fonte, mas não deixe que o confundam com fonte. Porque somos esgotáveis, exceto Ele, cuja seiva não para de jorrar. Eis a razão da decepção de muitos com pastores: os consideram fontes, que não são.

Amigo, olho sem rancor, de forma doce para o passado que vivi, de mais de quinze anos de igreja Betesda, e tenho a leveza de dizer que participei de um tempo lindo, enquanto foi possível. O quanto recebi da videira verdadeira naquele lugar! Foi lá onde Deus plantou minha raízes e cresci saudável, onde conheci os melhores amigos de minha vida, onde dei os melhores sorrisos, onde aprendi as maiores lições, chorando e sorrindo, onde eu e meus pais conheceram o Agricultor, onde conheci a mulher da minha vida.... Agradeço porque cheguei um menino medroso e saí alguém mais forte. Porque sem vergonha lavei carros, vendi salgadinhos, pintei paredes, arrastei bancos, dormi em bancos... Por isso sou grato, muito grato a Deus por nossa passada Betesda, por meu amado MINA, por ter havido felicidade enquanto se pôde. E frutos, muitos frutos.

Por isso e por muito mais que Deus já deve estar falando em seu íntimo, vale a pena ter esperança. Você ainda olhará para tudo e todos com aquela gargalhada.

Um caloroso abraço. De ramo para ramo.


Por Edilson de Holanda