Gosto de sentar ao teu lado, de repente, e rever as razões de sermos e estarmos juntos. É o que faço agora. São 20h, 14m e 10s.
À medida que ainda aceito que simplesmente
te amo porque não conseguiria dizer outra coisa, a minha mente, numa lógica
encarnada, soma, multiplica e só encontra como resultado motivos pra te amar e
me apaixonar ainda mais. Como se fosse possível amar como quem se apaixona. E
apaixonar-se como quem ama.
Vendo as linhas do teu rosto, que
o tempo esculturou delicadamente como se o vento moldasse a natureza, relembro a
primeira vez em que apreciei tua face delicada. Desde aquele dia, os ventos de
todos os cantos sopraram a nosso favor, nos unindo para nunca mais nos fazer
pairar em outro lugar que não fosse juntos.
Nos poucos segundos em que
consigo te observar sem que você perceba e passe a me olhar para que fique
envergonhado, lembro de como a tua companhia se tornou instantaneamente
necessária para que eu me sentisse mais completo. Repriso em minha mente o
primeiro dia dos últimos quinze anos. Foi quando te vi e em algum lugar do universo
uma música começou a tocar. E começamos a dançar, cantar e viver no mesmo ritmo.
Não sei exatamente que música é
essa, não sei quem canta (até sei!), nem se a música
muda de tempos em tempos, a fim de que não enjoemos. Sei mesmo é que vivo ao
seu lado as cadências de uma melodia. Há notas graves, agudas, mas sinto que
vivemos cada nota, experimentamos com expectativa a chegada de uma nova
estrofe, nos embasbacamos quando os instrumentos nos surpreendem com um solo
melancólico e cantamos, entusiasmados, gritando mesmo, quando chegam os refrões.
Demoraram cinco segundos. E você
finalmente, às 20h, 14m e 15s, me flagrou te mirando ou, como gostamos de
dizer, “scanneando”. Disfarço e te ofereço um abraço. Você aceita e então dou
início ao que tenho exercitado nos últimos dias e não sei se você percebeu:
Falar que te amo, te acalmar e falar sobre esperanças sem uma só palavra. Apenas
te abraçando.
O mesmo abraço de há quinze anos,
que não mudou desde que éramos apenas amiguinhos, depois amigos e agora
namorados. Sinto apenas que tudo o que aquele abraço significava tomou
contornos mais rebuscados, mas os significados são os mesmos. Eles dizem sobre
respeito, admiração, contentamento e entusiasmo. Eles falam sobre aconchego,
verdade e intimidade. E ainda parecem dizer: “como é bom estar aqui”, “que bom
que você está aqui”, “não quero mais sair daqui”.
Enquanto te envolvo com os braços
e nos acomodamos, tenho certeza de que ouço a música mesmo sem escutá-la com os
ouvidos. Aos poucos, sinto o teu respirar e como nos acomodamos para que inspiremos
e expiremos ao mesmo tempo. De vez em quando, percebo que você está respirando
bem calmamente e eu ainda não. Então paro um pouco, espero por você. Me encaixo
no seu ritmo e assim prosseguimos por infinitos segundos.
E o que temos aprendido da vida senão
a esperar um pelo outro, a sincronizar o respirar, prender o ar por um tempinho
enquanto o outro não chega, inspirar e expirar no mesmo tom da canção inaudível,
enquanto houver ar.
São 20h, 14m e 25s. Dez segundos de abraço. Quinze segundos se passaram, como se passaram os últimos
quinze anos.
A música dita o nosso ritmo.
E escrevi este texto pra você.