Acordei ontem com o rádio local anunciando um acidente na avenida beira-mar de Fortaleza (http://verdesmares.globo.com/v3/canais/noticias.asp?codigo=190965&modulo=178). O motorista atropelou duas pessoas, danificou quatro carros e fugiu, sem que ninguém conseguisse anotar o número da placa.
Mas você poderia perguntar se uma capital como Fortaleza não possui uma boa fiscalização na avenida mais famosa da cidade. E eu lhe responderia que não apenas possui teoricamente um sistema de fiscalização, mas também um sistema integrado de câmeras, também teoricamente prontas a registrar qualquer afronta clara à Lei. E lhe responderia também que havia câmeras exatamente no ângulo de visão do local do acidente [... ... ...]
Mas você poderia perguntar se uma capital como Fortaleza não possui uma boa fiscalização na avenida mais famosa da cidade. E eu lhe responderia que não apenas possui teoricamente um sistema de fiscalização, mas também um sistema integrado de câmeras, também teoricamente prontas a registrar qualquer afronta clara à Lei. E lhe responderia também que havia câmeras exatamente no ângulo de visão do local do acidente [... ... ...]
E você me perguntaria: por que então não identificaram a placa do carro? Porque a câmera não gravou aquele momento. Exatamente. Versão 1: Segundo as más (boas) línguas, a câmera não funciona. Versão 2: segundo as boas (más) línguas, ela funcionava, mas não registrou o acidente porque só passa a gravar no momento em que o controlador percebe uma situação de risco. Qual das duas opções é a mais patética?
Este fato é um bom retrato de nosso país. Aliás, o Brasil é repleto de retratos claros, de metáforas reais. É o país da piada pronta. Nosso presidente, por exemplo. Achem-no hilariamente risível ou achem-no uma desmoralização personificada, ele é a melhor interpretação de si mesmo. (http://br.youtube.com/watch?v=HchaObLC7rs) Rir, chorar ou esbravejar ante à Majestade Barbuda é uma opção nossa.
Mas, paradoxalmente, apesar de termos retratos claros de nosso cotidiano brasileiro, essa realidade é uma farsa. Uma farsa real. Farsa para quem está disposto enxergar com olhos minimamente críticos. Real para quem bóia na aquosidade dos mais simples raciocínios (e olha que não são poucos os que bóiam!).
Não quero cansar você com mais um texto longo. Quero apenas chamar atenção para algumas outras cenas que nos cercam. Além da câmera que não funciona, ou que funciona mas não grava, temos uma obra faraônica sendo construída em Fortaleza. É o Metrofor, o metrô da cidade, cabo eleitoral de campanhas políticas para os governos federal e estadual há mais de uma década. Este ano, ele completou dez anos. De obras. Ainda não foi inaugurado. Até um tempo atrás, comemorávamos os aniversários de paralisação das obras. Este grandioso projeto, que fará nada mais que seguir a linha do trem (que já existe), já abalou a estrutura de muitos imóveis à beira de suas crateras e, no mês passado, matou um operário e feriu três. (http://portal.antp.org.br/clip/news/News%20Articles/DispForm.aspx?ID=6044).
Outra pérola. Você já deve ter ouvido falar da “rotatória da Aguanambi”. Ela homenageia um industrial cearense (alguém disse “patrocinador”?) Estabeleceu-se em um dos pontos mais engarrafados do trânsito cearense um instrumento de acidentes de trânsito. Carros de todos os lados, indo por todos os sentidos. Basta passar por lá e ver. No centro, a estátua do empresário e uma linda praça amplamente arborizada. Banquinhos para as famílias sentarem e curtirem o visual, inalando o mais puro gás saído dos canos de escapamento. Mas ainda não vi ninguém naquela praça. Será que ninguém ainda teve coragem de passar um fim de tarde sob o risco de ser morto em um latrocínio, tão próximo ao viaduto da base aérea de Fortaleza? Ou será que ninguém conseguiu ainda atravessar a rotatória para chegar à praça. Verdade! Quando construíram a praça, não havia acesso para um pedestre atravessar a rua e chegar lá! Até que construíram uma enorme e portentosa passarela com o nome do empresário. É tão bonito que nem parece as demais passarelas da cidade. Mas quem se arrisca a atravessar e encontrar lá em cima, por trás das luzes intensas, um sujeito não tão iluminado e armado?
Por falar em trânsito, Fortaleza tem o primeiro viaduto com semáforo embaixo, do mundo. Fica bem próximo à nossa rotatória, entre as avenidas Treze de Maio e Aguanambi. O viaduto seria como função desafogar o trânsito da avenida que passa sob ele. Mas sob o viaduto há um semáforo! Com as reclamações da população quanto à insegurança no local (eu, inclusive, já fui assaltado ali próximo), “resolveram o problema”. Puseram uma luz sob o viaduto que mais parece um refletor de estádio. Ou melhor, é um refletor mesmo, ofuscador da visão de quem passa. Querem “encandear” os bandidos?
Eu talvez não teria sido assaltado se a “Ronda do Quarteirão” (principal promessa de campanha do atual governador do estado) estivesse funcionando. Mas não está. A última noticia que tive foi do imprescindível concurso público para a definição do fardamento a ser utilizado pelos policiais militares que atuarão na ronda. (http://www.sfiec.org.br/concursorq/index.jsp). Realmente, a sociedade pode esperar que os grandes alfaiates possam se habilitar e mostrar suas propostas para o vestir elegante e de bem com a moda dos pm’s. Pasmem os que ainda não sabiam disso.
Caso você seja acidentado e precise ser socorrido para o maior hospital emergencial do estado, o IJF, é bom que já esteja próximo ao prédio e não precise ser levado de helicóptero. O hospital possui um heliporto, mas o mesmo só recebe passarinhos. O heliporto não pode receber veículos aéreos, devido à impossibilidade de se realizarem pouso e decolagens. Os helicópteros, então, descem na praça ao lado do IJF, levantando a forte poeira que se acumula no local. Os paramédicos levam os pacientes de maca até o hospital, não sem antes atravessar uma movimentada rua e dar meia-volta no quarteirão para enfim adentrar o hospital.
Outro bom retrato é o funcionalismo público. Certa vez, no balcão de uma movimentada autarquia federal (eu não disse UFC), pedi uma informação básica ao único funcionário responsável do setor no momento. Ele me respondeu e eu tive que engolir: “Não sei lhe informar. Você tem que ligar pra cá!” Ou outro, que quando tocava o telefone e alguém dizia “Por favor, você poderia me informar...” ele cortava: “Não sei, só à tarde”. “Mas eu só queria...” “Não sei, só à tarde”.
Bem, vou ficando por aqui. Se você lembrar-se de outro exemplo e quiser mandar como comentário, será muito legal. Fica a reflexão e a certeza de que não podemos nos calar. Muitas vezes, reclamar funciona. Principalmente ante ao funcionalismo público. Para isso existem as ouvidorias, a polícia, o Ministério Público... Isso já aconteceu comigo. Certa vez, porque coloquei a boca no trombone consegui a cirurgia de meu pai em um hospital público. Mas isso é conteúdo para outra hora...
Os poderosos adoram a apatia e o conformismo. Eles adoram os que se curvam. Eles adoram câmeras que não filmam. Ou câmeras que filmam, mas não gravam... É bem mais cômodo.
Este fato é um bom retrato de nosso país. Aliás, o Brasil é repleto de retratos claros, de metáforas reais. É o país da piada pronta. Nosso presidente, por exemplo. Achem-no hilariamente risível ou achem-no uma desmoralização personificada, ele é a melhor interpretação de si mesmo. (http://br.youtube.com/watch?v=HchaObLC7rs) Rir, chorar ou esbravejar ante à Majestade Barbuda é uma opção nossa.
Mas, paradoxalmente, apesar de termos retratos claros de nosso cotidiano brasileiro, essa realidade é uma farsa. Uma farsa real. Farsa para quem está disposto enxergar com olhos minimamente críticos. Real para quem bóia na aquosidade dos mais simples raciocínios (e olha que não são poucos os que bóiam!).
Não quero cansar você com mais um texto longo. Quero apenas chamar atenção para algumas outras cenas que nos cercam. Além da câmera que não funciona, ou que funciona mas não grava, temos uma obra faraônica sendo construída em Fortaleza. É o Metrofor, o metrô da cidade, cabo eleitoral de campanhas políticas para os governos federal e estadual há mais de uma década. Este ano, ele completou dez anos. De obras. Ainda não foi inaugurado. Até um tempo atrás, comemorávamos os aniversários de paralisação das obras. Este grandioso projeto, que fará nada mais que seguir a linha do trem (que já existe), já abalou a estrutura de muitos imóveis à beira de suas crateras e, no mês passado, matou um operário e feriu três. (http://portal.antp.org.br/clip/news/News%20Articles/DispForm.aspx?ID=6044).
Outra pérola. Você já deve ter ouvido falar da “rotatória da Aguanambi”. Ela homenageia um industrial cearense (alguém disse “patrocinador”?) Estabeleceu-se em um dos pontos mais engarrafados do trânsito cearense um instrumento de acidentes de trânsito. Carros de todos os lados, indo por todos os sentidos. Basta passar por lá e ver. No centro, a estátua do empresário e uma linda praça amplamente arborizada. Banquinhos para as famílias sentarem e curtirem o visual, inalando o mais puro gás saído dos canos de escapamento. Mas ainda não vi ninguém naquela praça. Será que ninguém ainda teve coragem de passar um fim de tarde sob o risco de ser morto em um latrocínio, tão próximo ao viaduto da base aérea de Fortaleza? Ou será que ninguém conseguiu ainda atravessar a rotatória para chegar à praça. Verdade! Quando construíram a praça, não havia acesso para um pedestre atravessar a rua e chegar lá! Até que construíram uma enorme e portentosa passarela com o nome do empresário. É tão bonito que nem parece as demais passarelas da cidade. Mas quem se arrisca a atravessar e encontrar lá em cima, por trás das luzes intensas, um sujeito não tão iluminado e armado?
Por falar em trânsito, Fortaleza tem o primeiro viaduto com semáforo embaixo, do mundo. Fica bem próximo à nossa rotatória, entre as avenidas Treze de Maio e Aguanambi. O viaduto seria como função desafogar o trânsito da avenida que passa sob ele. Mas sob o viaduto há um semáforo! Com as reclamações da população quanto à insegurança no local (eu, inclusive, já fui assaltado ali próximo), “resolveram o problema”. Puseram uma luz sob o viaduto que mais parece um refletor de estádio. Ou melhor, é um refletor mesmo, ofuscador da visão de quem passa. Querem “encandear” os bandidos?
Eu talvez não teria sido assaltado se a “Ronda do Quarteirão” (principal promessa de campanha do atual governador do estado) estivesse funcionando. Mas não está. A última noticia que tive foi do imprescindível concurso público para a definição do fardamento a ser utilizado pelos policiais militares que atuarão na ronda. (http://www.sfiec.org.br/concursorq/index.jsp). Realmente, a sociedade pode esperar que os grandes alfaiates possam se habilitar e mostrar suas propostas para o vestir elegante e de bem com a moda dos pm’s. Pasmem os que ainda não sabiam disso.
Caso você seja acidentado e precise ser socorrido para o maior hospital emergencial do estado, o IJF, é bom que já esteja próximo ao prédio e não precise ser levado de helicóptero. O hospital possui um heliporto, mas o mesmo só recebe passarinhos. O heliporto não pode receber veículos aéreos, devido à impossibilidade de se realizarem pouso e decolagens. Os helicópteros, então, descem na praça ao lado do IJF, levantando a forte poeira que se acumula no local. Os paramédicos levam os pacientes de maca até o hospital, não sem antes atravessar uma movimentada rua e dar meia-volta no quarteirão para enfim adentrar o hospital.
Outro bom retrato é o funcionalismo público. Certa vez, no balcão de uma movimentada autarquia federal (eu não disse UFC), pedi uma informação básica ao único funcionário responsável do setor no momento. Ele me respondeu e eu tive que engolir: “Não sei lhe informar. Você tem que ligar pra cá!” Ou outro, que quando tocava o telefone e alguém dizia “Por favor, você poderia me informar...” ele cortava: “Não sei, só à tarde”. “Mas eu só queria...” “Não sei, só à tarde”.
Bem, vou ficando por aqui. Se você lembrar-se de outro exemplo e quiser mandar como comentário, será muito legal. Fica a reflexão e a certeza de que não podemos nos calar. Muitas vezes, reclamar funciona. Principalmente ante ao funcionalismo público. Para isso existem as ouvidorias, a polícia, o Ministério Público... Isso já aconteceu comigo. Certa vez, porque coloquei a boca no trombone consegui a cirurgia de meu pai em um hospital público. Mas isso é conteúdo para outra hora...
Os poderosos adoram a apatia e o conformismo. Eles adoram os que se curvam. Eles adoram câmeras que não filmam. Ou câmeras que filmam, mas não gravam... É bem mais cômodo.
Abraço...
2 comentários:
Excelente o texto, Edilson!
Exemplos que deixam claro o quanto é ineficiente deixar nas mãos do governo tantas tarefas. Mas a culpa é nossa.
Exigimos em todas as eleições que o governo tome conta dos pobres, dos estudantes, dos empresários, das universidades, dos metrôs, das estradas e tudo mais que se possa imaginar. Esquecemos do imenso custo social que é um governo que se mete em todos os assuntos da sociedade. Dizemos sempre a eles: Tome, aqui está o nosso dinheiro, confiamos em vocês pra tomar as melhores decisões. E aí eles vão e 'investem' em praças que ninguém pediu e financiam a universidade de jovens de classe média alta pra que eles tenham uma conta a menos a pagar.
Aí falta dinheiro pra o que é o verdadeiro papel do governo: Evitar que as pessoas se matem e roubem umas as outras e saiam impunes. Isso, falta dinheiro mesmo. Porque o clichê está certo: não existem almoços grátis. O "direito" a universidade pública, ao décimo terceiro salário, a cargos vitalícios, e tantos outros "direitos" nos tiram o que considero ser o nosso único direito legítimo: o de usarmos o nosso próprio dinheiro pra o que bem entendemos. Porque só assim a mão invisível pode trabalhar, alocando recursos de acordo com os nossos interesses e não com os do governo.
Esquecemos de um fato simples: o Socialismo não deu certo e nunca vai dar, porque quem sabe o que o povo quer, é o próprio povo.
Abraço. (Tô devendo um email, eu sei)
Oi, Flip.
Tamb�m acho que a propostas comunista - socialistas infelizmente n�o vingam, definitivamente, porque elas podariam o saud�vel instinto individual de crescimento e desenvolvimento de cada ser humano, o que, al�m de ser imposs�vel, se n�o fosse traria enormes injusti�as.
Legal a quest�o que voc� levantou, que envolve os conceitos de Estado Liberal (ou neoliberal) e Estado Social intervencionista.
Mas acredito que aqui no Brasil, pelo menos, o problema n�o seja o modelo, mas o prop�sito �nsito aos governantes, como um todo e, porque n�o dizer, ao povo, tamb�m como um todo.
Grande parte das despesas que o Estado brasileiro tem se deve n�o � impossibilidade material do custeio da m�quina p�blica, mas ao mau gerenciamento dos recursos dispon�veis (aqui cabe a m� vontade, a pregui�a e ao desperd�cio por parte de nossos mandat�rios) e � corrup�o propriamente dita. Na outra ponta, temos um povo mal educado (culpa de quem, � outra discuss�o), que n�o parece ter o esp�rito de cuidado com a coisa p�blica (tal qual seus governantes) e que, em grande parte, gostaria de fazer o mesmo que os atuais fazem (sugar os recursos estatais, nem que seja com o furto de um clipe de uma reparti�o ou com o emprego nep�tico de um parente). Por isso, destr�em-se pra�as em poucas semanas e jogam-se garrafas de pl�stico e coisas piores na rua.
Enquanto n�o estivermos dotados da alma de ser verdadeiramente brasileiros e de cuidarmos do que � nosso, p�blico, para o bem de todos, inclusive o nosso, continuaremos a ter c�meras que n�o filmam, ou que filmam e n�o gravam...
Valeu... Abra�o!!!
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