E tua rima se revela
Inspiração, estalo, instante
Que o poeta, incessante, anela
Como esperasse atento
Que um cometa lhe cortasse
Riscando em seu céu a linha
Mais reta que imaginasse [... ... ...]
Mas o que é um cometa
Com sua calda reta e fugaz?
Nosso amor se renova em ciclos
Como as voltas que teu cabelo faz
Pois em nós, o que é intenso
Não é reto, mera ilusão
Não traduz em paralelas
A mera poeira de uma paixão
Teu amor me veio em ondas
Cristas, vales, pólo a pólo
Como o homem quer ser pleno
Como o menino quer um colo
Sei que a falta de retas
Não me impediu de te achar
Se elas se encontram no infinito
No altar, nosso amor vamos selar
É na vida como em cachos
Ainda que queira esticar
Resoluta, mas doce e leve
Volta, por encanto, a enrolar
Como em toda arquitetura
A beleza está nas curvas
Os teus cachos são os traços
De um desenho sem rasuras
Maquete, ao meu redor dá voltas
Paisagem que não abusa
Se em teu mundo eu sou artista
No meu, tu és a musa
Sendo assim tens o alvedrio
Pra em minha pintura circular
Misturando com teu rosa
O meu cinza e contrastar
Com a aquarela a meio-tom
De um pincel sem inspiração
Colorida no espiral
Teus caracóis em minha mão.
E ainda que na tela atire
Cores mortas, ao arrepio
Elas voltam vivas, dando voltas
Quando teço cada fio
Do tapete que estendi
Pra tua dança. Rodopio, perfeição
Teus dedos riscam um círculo
Levitam: não basta o chão
Sou movido pelo baile
De teus cachos. Pois, quem dera
Ser levado pelo vento
Que só o teu balé revela
E passeio em teu cabelo: a cidade
Por cada espiral: uma viela
E me acho quando me encontro
Em teu sorriso, em tua janela
E ali, mais que em um conto
Em que a princesa vê o fim
Não precisa jogar as tranças
Pra que eu te salve mesmo assim
E fujamos pela senda
Em que teu castanho dá o sinal
Caracóis, olhos, a mesma cor
De um rebusque natural
Qual clara tez que se revela
Por detrás do último fio
Com a sutileza de uma onda
Onde navega o meu navio
Não em mares ou solitários picos
De grandes montanhas de gelo
Mas no calor do enrolar
E desenrolar de teu cabelo
Desvendado em leitos sinuosos
Do misterioso rio
Que desbravo, aventureiro
Por entre as margens de cada fio
Cada vez que te miro
Feito miragem, de louco, amante
Vejo o horizonte dando voltas
Pra compor aquele instante
Pensa ele que poderá, delirante
Algum dia, em sua beleza
Por curvas retas ou retas curvas
Tomar parte em tua singeleza.
Não estereotipo. Não te enquadro
“Nem num círculo trivial”
Foste feita de amor
E o amor é atemporal
Se encantar em te conhecer
Conhecer e voltar a te encantar
Como um espiral, de muitas idas
Que só vão para voltar
Pela magia de uma nova face tua
Ainda não reconhecida
N0 mergulho, minha inesgotável
Descoberta pressentida
Sou criança em teu playground
Que cada cacho revelou
Fecho os olhos e “carpe diem”
Dando voltas no escorregador
E me recuso a crescer
O sonho não pode acabar
A não ser que na última curva
Tu me ensines de novo a sonhar
Pendulando no balanço
De nervoso, nasce um frio
Me escondo nesse parque
Como se a vida por um fio
E logo por sobre a fronte
Uma fenda me propõe
Dividindo o cabelo em dois lados
Uma dúvida que agora impõe
Doçura ou travessura
Essência ou aparência
Forma ou conteúdo
Minuto ou permanência
Nas metáforas e nas antíteses
Nos mistérios que revelas
O Escritor de tua vida
Rubricou em ti o melhor delas
E as águas, que te renovam
Indagando por qual lado escorrer
Seja por pingo ou cachoeira
Elas terminam em você
Descuida, solta e propaga
Suaves brisas, onda lenta
A maré tranqüiliza a areia quente
E a tua calma me acalenta
Meu tolo pranto deposito
No caracol que se partiu
Mas vem o amor e justifica:
É a tua força mais sutil
Dada a nós, ingênuos humanos
De corpo e alma febril
Pelo Eterno, que curou a febre
E por alma nos uniu
Na meia-volta, um último cacho
Sutil, descreve um “s”
Pedindo silêncio. É o “até-logo”
Que da mente à face desce
Ansiando que a noite
Sobre o dia jogue o véu
Descrevendo no ar o arco
Paisagem de meu céu
Pra que traga neste ciclo
Um novo encontro, um novo dia
Ou mesmo a velha noite
Traga o amor que eu queria
E assim, cada momento
De espera paga a pena
Pregue o tempo voltas numa peça
Hei de ver aquela cena
Pura, leve, pulcra
Como uma cena possa ser
E esqueço minhas idas e vindas
Por meu teatro sem você
E aquele fio que sobra na face
Imperfeição que se cogitou
É quem confirma o encanto
Que teu sorriso despertou
“Mero detalhe”, gritam os muitos
Pra quem contentamento é dor
Não desarrumo a tua cena
Que é um mote para o amor
No embaraço, a falsa impressão
De que a harmonia está perdida
E eis que surge, se revela
A minha mágica preferida
Na madeixa frágil se encaixa
Se entrelaça cada fio
Coreografia ensaiada
Minucioso desafio
Esmero do Artesão
Que contou cada cabelo
E enquanto dizia “isto é bom”
Compunha os cachos com o dedo
E os elos da corrente
Aliança que nos une
Não têm fim, são inquebráveis
Amor que o tempo não pune
E em cada cacho, lado a lado
O lado alado de meu sonho
Lado esquerdo de meu peito
Em teu direito é que me ponho
São dez dedos entrelaçados
De um labirinto em espiral
Qual um poema encaracolado
Que não quer ter um final
4 comentários:
Que lindo e profundo, Edilson!!! Deus abençoe cada dia mais esse amor tão lindo!!!
Brigado pelo comentário, Márcia!
Deus te abençoe!
E boa viagem!!
Eita amigoooo.....qta "espiração" rsrsrsrsrs lindooooo...amei....vc é verdadeiramente um poeta!!
Ow maezinha!A Tati uma menininha e o poema a coisa mais fofa!Amei
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