Já havia publicado aqui no blog um comentário a respeito da “hora de parar”. Em qualquer função, esporte ou atividade, é essencial que o profissional, atleta ou coisa que o valha, compreenda quando este momento está chegando e tenha a coragem de tomar a atitude certa.
Serginho, o melhor líbero da história do vôlei, anunciou que não pretende mais defender a seleção brasileira. Segundo o craque, “já dei minha contribuição e não sei se eu seria mais útil. A seleção vem conquistando muito e precisa ser renovada.”
Impressiona o caráter demonstrado em uma decisão assim. Parar quando reconhecidamente se é o melhor não é decisão para qualquer um. O motivo não é sua total falta de condição física para continuar no vôlei. Tanto que ele continuará jogando em clubes. É que o jogador admite que não poderá continuar dando o melhor pela seleção sem que ela mantenha o excelente nível dos últimos anos. E, para não prejudicá-la, decide parar.
Uma forma de “sair por cima”? Talvez. Mas quantos de nós, em seu lugar, rejeitariam um novo convite de Bernardinho para continuar a estar no topo do mundo em um esporte e ainda “correr o risco” de ganhar mais títulos mundo afora? O técnico agora está tentando fazer com que o líbero mude de ideia. O anúncio de parada não parece um blefe. Afinal. Seria muito arriscado blefar e correr o risco de ficar fora da escalação do rigoroso Bernardinho.
Quer mais uma prova da grandeza da decisão de Serginho? Basta lembrar da última copa do mundo de futebol. Muitos sabiam e outros desconfiavam, à época, de que Kaká não tinha a mínima condição de jogar sete partidas, nem em uma pelada de bairro. Problemas seríssimos em seu joelho esquerdo faziam de sua convocação, além de uma farsa, um grande risco de que a lesão se agravasse e nunca mais o atleta voltasse a jogar.
Kaká foi convocado e ainda como titular da seleção. Todos vimos a melancólica atuação do jogador na África do Sul. Infelizmente, Kaká não apenas desmentia as notícias a respeito de sua condição física como tentava atribuir os boatos a uma perseguição religiosa.
Veja o que ele disse em coletiva em 22 de junho do ano passado, em meio à copa: “Eu queria aproveitar a sua pergunta para falar sobre a coluna publicada por seu pai dizendo que o meu problema era mais sério do que o divulgado. Há algum tempo os canhões do seu pai têm me atingido, não para me criticar por motivos profissionais, mas por causa da minha fé em Jesus Cristo. Do mesmo jeito que eu respeito o Juca Kfouri como ateu, eu queria que ele me respeitasse por acreditar em Jesus Cristo. Milhões de pessoas acreditam em Jesus e ele precisa respeitar isso”.
Perseguição religiosa? Hum. Passou longe.
A verdade é que, infelizmente, o brilhante jogador (e exemplo de conduta social) não demonstrou coragem suficiente para dizer “não” a uma convocação que não apenas prejudicaria a seleção brasileira (como aconteceu) como ainda arriscaria sua carreira.
Veja só o que o jogador disse em 05 de janeiro desse ano ao jornal espanhol “As”: “Passei momentos muito ruins nestes meses, sem saber sequer se voltaria a jogar”. Já o médico que o operou logo após a copa, Marc Martens, disse: “Ele não deveria ter atuado” (na copa) e “Quando ele saiu da mesa de operações, não sabíamos realmente quando ele iria voltar”.
Desde a eliminação para a Holanda até aqui, Kaká jogou meia dúzia de jogos, está novamente lesionado e será demitido por seu clube, o Real Madrid. Uma pena.
Verdade também que não faço ideia do volume de interesses financeiros envolvidos em sua convocação para a seleção, nem mesmo o que isso significaria para a relação com seus patrocinadores. Por isso mesmo, não tenho coragem de jogar-lhe uma pedra (muito menos a primeira!). Dizer que em seu lugar faríamos diferente é muito fácil...
Também por isso o objetivo aqui não é condenar Kaká, mas destacar o caráter de Serginho.
A despeito de Kaká (que tomara ainda volte a jogar), viva Serginho. Ainda que Bernardinho consiga demovê-lo de sua decisão, já se trata a sua franqueza de uma qualidade transformada em uma atitude nobre, rara, corajosa, patriótica até, de um verdadeiro atleta.
Um verdadeiro exemplo.
Um verdadeiro exemplo.
4 comentários:
Excelente texto Edilson!! Na verdade, um tema que vale a pena ser debatido, quanto de nós abririamos mão do topo? dos olofotes? mais sucesso?!
Parabéns, meu amigo! Tenho gostado muito de suas postagens, você tem o dom escrita. Abordando assuntos polêmicos (e até mesmo do dia-a-dia) de forma clara, e com a sua pitada de senso de humor (em algum deles).
Estou sempre te acompanhando por aqui.
Parabéns.
;)
É verdade Dilson, recentemente até mesmo o Romário, já congressista e "ocupado" em outra atividade, resolve,no meio da semana,jogar pelada no exterior por "uma proposta financeira muito boa", comprovando que,diante de um incentivo financeiro mais relevante,muitos pensamentos,limites físicos,tabus éticos,compromissos profissionais,etc,vão pro espaço...
Polêmico também pensar que nós mesmos,cristãos declarados,muitas vezes usamos do mesmo expediente em prol de vantagens momentaneas apenas a curto prazo...É o elogiado Carpem Diem;;;
Caro Edilson,
Muito bom o texto, nota 10 no quesito coerência, nota dez também para o Serginho.
Sobre o Kaká, me fez lembrar dinheiro, isso me lembra automaticamente o Malafaia, para os dois nota zero!
Como você disse: interesses financeiros, patrocinadores, será ????
E o nome de Deus nessa história, influência em alguma coisa???
Será que essas pessoas são mesmo crentes em Deus, ou o utilizam para aumentar suas contas bancárias?
E no caso se distanciam cda vex mais, a cada Real ganho, do exemplo que Jesus pregou: a Simplicidade.
Em palavras é muito fácil, agora fazer no concreto, ai o bicho pega, pois o critério da verdade é a prática, e a cada vez mais os ricos ganham o dinheiro que faz falta aos milhares de miseráveis.
Amém.
Atencisamente
Lan lan.
Muito bom o texto. Ótima análise desse momento da vida de Pedro!!! Continue assim rapaz, vc tah no rumo certo, hehehe
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