domingo, 6 de março de 2011

ARIADNA E VOCÊ. TUDO A VER?

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O título é mesmo apelativo. Para chamar atenção.

Indo direto ao assunto. Em janeiro, passei pela “nobre” experiência de ter extraído quatro dentes “de uma lapada só”. Resultado: quase uma semana em casa, sem poder fazer muita coisa. Sensação de quem se sente inapropriado, inapto, entediado... Mas ainda capaz de refletir.

Bastaram alguns dias para que a TV aberta (praticamente a única opção de entretenimento) me capturasse sorrateiramente. Quando menos percebi, estava fã número 1 do Willian Bonner (mesmo sabendo que o Jornal Nacional é a fonte menos confiável de notícias no Brasil), conhecendo com interesse o início da nova novela das oito (ou nove) e, pasme você, olhando meio de relance (ou algo mais que isso) o programa do Pedro Lastimável Bial.

Os dias de enclausuramento tiveram fim. Ainda bem. Pelo menos eles serviram para algumas considerações. A primeira é que terei mais misericórdia na hora de criticar quem vive babando na frente da tela da Globo em horário nobre. Ali existe um imã sobrenatural.

A segunda é a constatação de como a grande mídia não apenas nos influencia ou reflete modas e costumes de um povo. Ela impõe padrões de comportamento.

O início da nova novela das oito mostrava um publicitário jovem, rico e famoso. Mas o que chamava atenção era a forma como ele era bem resolvido amorosamente. Se orgulhava de não querer nada além de sexo com cada uma das mulheres com quem se envolvia. Deixava isso bem claro no início de cada caso: “Só quero sexo. Amanhã, não te conheço”. A novela deixava clara a felicidade do personagem em não querer envolvimento algum com ninguém. Ele só “curtia” a vida. Sem compromisso amoroso algum. E como era intensa aquela felicidade!

Em outro núcleo da novela, um jovem casal de noivos às vésperas do casamento. De repente, o noivo conhece uma mulher e é absorvido por uma paixão arrebatadora e inesperada. Ele resolve terminar o noivado em nome daquela paixão. Quando menos me vi, estava torcendo para que ele terminasse o noivado e ficasse com sua “verdadeira paixão”.

Entre uma bolsa de gelo e outra, para baixar o inchaço de meu rosto, começava o BBB. O personagem principal logo se revelava: Ariadna, transexual. Ficou evidente que o rapaz ingressou no programa exatamente porque é transexual. Por nenhum outro motivo. Dias depois, ficou claro que isso fazia parte de uma campanha da grande emissora para popularizar o comportamento e a escolha feita pelo “ex-rapaz”.

Não é impensável que os planos da Rede Globo apontavam para uma vitória de Ariadna no programa. Mas, para a surpresa da emissora, a participante foi a primeira eliminada do programa. Um claro recado do público e um alento para quem, como eu, critica a forma como a grande mídia quase que obriga o país a agir, em inúmeras áreas da vida, da forma como lhe convém.

Na eliminação de Ariadna, Pedro Lastimável Bial poetizou: “Vem minha Pequena Sereia, Ariel Ariadna”. Insatisfeita com a decisão do público, a direção do programa inventou outra forma de levar Ariel de volta a casa. Colocou-a em uma casa de vidro com outros dois eliminados, para que o público decidisse quem voltaria. Enquanto isso, toda a programação da emissora se debatia para alardear Ariadna e a cirurgia que a “transexualizou”: Jornais, Anas Marias Bragas, Fantástico... Surpreendente como a TV consegue criar um fato, dar ressonância a ele e ainda que ele se torne o “toptwit” da hora.

Mais uma vez, a globo perdeu: Ariadna não foi escolhida. Mas a campanha global de formação de padrão de comportamento continua.

Penso, então, na forma assustadora como somos induzidos a pensarmos e nos comportarmos, segundo padrões que não escolhemos conscientemente. Nas pequenas e grandes coisas. Da forma de falar, passando pela roupa que se usa, pelas forma de pentear o cabelo, pela música que se canta e chegando aos objetos de adoração. Perceba em você mesmo.

Não adianta. Liberdade, com alguém já disse, é a possibilidade de escolhermos nossas próprias algemas. Por isso mesmo, os piores escravos são aqueles acorrentados sem mesmo saber. Sutilmente. Não têm (ou não temos) sequer a oportunidade de questionar, pois, sem sequer nos darmos conta, estamos torcendo pela separação do casal de noivos, aprovando a felicidade do solteiro pegador descompromissado, dando audiência a Pedro Lastimável Bial. E pior ainda: reproduzindo imediatamente atitudes e ideias que conscientemente condenamos.

Padrões de comportamento massificados, enlatados...

Escolhamos, então, as melhores algemas possíveis. Que tal, presos ao compromisso de amar sem esperar em troca, de escolher com criticidade o que passará por nossos olhos, de utilizar melhor o tão escasso tempo que temos para realizarmos obras úteis, para deixarmos um legado...

Que algemas você tem escolhido? Não fuga do privilégio de escolhê-las. Isso sim é liberdade.

Entre um Ariel e uma Ariadna, há muito mais que uma "decisão feliz corajosa de um ser livre para enfrentar o mundo". Detalhes que não aparecem em horário nobre... 

Plin-plin.

4 comentários:

Anônimo disse...

Hahahaha, muito bom Edilson!!! À começar pelo título. É um prazer fazer parte da sua lista de contatos!!!

Abraços,

Fabiano.

Anônimo disse...

Ual, voltou com tudo...

Tava fazendo falta...

Acertou na mosca, uma televisão em casa pode fazer coisas extraordinárias para o nosso bem ou para o nosso mal. Depende à quem ela está servindo.

E sobre os problemas com dentes, eu sei o que é isso, no mais um grande abraço, e espero algumas polêmicas para animar os dias.

Um abraço!

Anônimo disse...

Olá Edilson,

Muito boas as suas considerações.

Em Cristo,
Wanderley Diógenes

Anônimo disse...

Hahaha,é muito verdade tudo isso que você escreveu irmão;;;;Por isso é tão importante o cuidado no uso desse veículo,,,,

Abraço

Marcelo

Por Edilson de Holanda