terça-feira, 19 de outubro de 2010

PÁTRIA AMADA (a cada quatro anos) BRASIL

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De quatro em quatro anos, certo povo do sul da América lembra de onde nasceu. No ano de eleições para presidente do país, a decisão mais importante de uma pátria. Sim, mas por mera coincidência. 

No ano de um torneio esportivo. Sim, este é o motivo. Durante doze meses? Não. Apenas enquanto um grupo de 23 atletas permanece disputando seus jogos.

Neste ano, o patriotismo nacional durou exatos 16 dias, 21 horas e 30 minutos (o tempo em que a seleção permaneceu na Copa do Mundo). As bandeiras verde-amarelas já foram guardadas, para que daqui a quatro anos o mofo lhes seja tirado. Uma tosse, dois espirros e... “Brasil sil sil” de novo.

Nossos 7 de setembro são muito comemorados. Porque são feriados! E antes que alguém diga que esse tipo de comemoração é mera herança de uma ditadura, observe os 4 de julho nos EUA e os 5 de julho em Sobral (rsrsrs)!

Não fomos educados a nos amarmos enquanto nação? Os mandatários da pátria não nos dão exemplo de brasilidade? Muitas são as versões que tentarão explicar nossa falta de patriotismo.

O fato é que esse “vazio cívico” nos faz muito mal. Faz-nos ver sempre o que vem de fora como melhor, sem que seja dada possibilidade ao “produto” brasileiro de se explicar. Até os bandidos dos outros são melhores que os nossos. Repare (para não ir tão longe) na forma como o patrimônio público no Chile, Uruguai e Argentina são preservados. Onde estão os pichadores “hermanos”?

Por que os catadores de lixo de nossa madrugada mais sujam as calçadas que recolhem produtos recicláveis? (O antipatriotismo entre os pobres)

Por que anteontem vi uma embalagem de biscoito voando para fora de uma Hilux? (O antipatriotismo entre os ricos)

Por que há algum tempo assisti a um gari varrer uma calçada no centro de Fortaleza e, em seguida, consumir um bombom e jogar na rua, bem ao lado se sua lata de lixo? (O antipatriotismo no seio do serviço público)

Por que nossos políticos fazem de nosso dinheiro papel higiênico, sujando-o em suas cuecas? (O mais puro antipatriotismo)

A frase “Não tem problema não. Isso não é e ninguém. É público” é emblemática. Se é público, deveríamos cuidar com extremo carinho (porque é nosso) e com absoluta responsabilidade (porque é e mais 192.924.525 pessoas).

Não são muitas as exceções de patriotismo brasileiro. Elas apenas confirmam a regra. Doe saber da forma como votamos: no(a) mais charmoso(a), naquele que anda de jet ski, naquele que me deu uma dentadura, um saco de grãos ou dez reais.

Doe ver uma mídia brasileira que estimula no cenário internacional nossa imagem como um povo sensual (imoral), libertino, preguiçoso, malandro e trapaceiro (vide o “jeitinho brasileiro). Que vende uma cultura musical que se manifesta em uma verdadeira apologia à prostituição (inclusive infantil) e à desestruturação de tudo o que se possa entender como “família”. 

De saber que os cafajestes do mundo inteiro, com a ajuda de brasileiros, folheiam seus catálogos de crimes e sublinham o nome “Brasil”: o lugar perfeito para se exportar amas e drogas. O país ideal para se importar mulheres e órgãos infantis.

Saber que isso também acontece na Etiópia, Angola e Quênia não consola.

E por falar em estrangeiros, os heróis de nossa pátria são da estirpe daquele que pisou em um holandês no chão, no último jogo do Brasil na África do Sul e quase não lembram mais como se fala português. Moram na Europa há anos. Reúnem-se de quatro em quatro anos para jogar uma copa. 

E nossos políticos, que deveriam ser nossos heróis? Melhor mudar de assunto e encerrar o texto.

Mas, antes disso, uma pergunta: Onde está aquela bandeira que você empunhou em dias de jogos do Brasil em junho? Já está enrolada e guardada?

3 comentários:

Anônimo disse...

Pobres e ricos já guardaram suas bandeiras do Brasil, caro Edilson.
Vemos agora apenas as vermelhas e as azuis. Uma lástima. Cada um olhando para o seu umbigo!!!
Um povo que não se une, que não dicute propostas, que não o bem para todos, não é um povo, é só gente que ocupa um espaço comum...
Cada um podia empunhar sua bandeira, fosse ela de que cor fosse, desde que na outra mão empunhasse a bandeira do nosso (pobre coitado) país!
Carla Sofia

Edilson de Holanda disse...

Honra, prof. Carla!

Sobre o tema, sabemos que um Estado é formado de povo, território de soberania.

No Brasil, temos os três elementos, mas não há relação entre eles. Por isso, nosso país vive este "hiato" de amor próprio.

O Brasil é uma bicicleta sem correntes!

Tati disse...

Como sempre! Ótimo texto!!!

Bjin!!

Por Edilson de Holanda