Philip Yancey, em seu livro “O
Deus (in)visível”, me ajuda a formular
as seguintes perguntas: você está absolutamente certo do que crê? Para você,
Deus realmente existe? Se tivesse nascido no meio de um povo ateu (se bem que isso
não existe), creria no mesmo Deus que acredita hoje?
D-Ú-V-I-D-A. Este é o nome do
maior inimigo das religiões. Em regra, as igrejas parecem cobrar na porta de
entrada um bilhete chamado “fé”. Dali para a frente, parece ter acesso somente
quem assina um termo de compromisso de aceitar tudo o que for dito, sem mais questionamentos,
“para o bem de todos e felicidade geral do céu”.
A religião, em geral, incluiu por
sua própria conta um novo verbo no rol de pecados: “duvidar”. Assim, formam-se
rebanhos em sua maioria de ovelhas que nunca olharam para o céu com um ponto de
interrogação na testa, para que não sejam incluídas em outro rol: o dos
“hereges desviados”. A religião, enfim, tem medo de perguntas. E costuma
perguntar somente o que acredita saber responder.
Dúvidas são como esqueletos que todos
temos e escondemos em nosso armário particular. Todos, inclusive você, têm medo
de abrir seu armário e encarar aquele monstro. Por isso, o armário permanece
fechado, inacessível. Pode ser que você morra sem abri-lo.
Contudo, tudo o que deveria fazer
é abrir, retirar o esqueleto e dissecá-lo, para ver que ele não passa de ossos.
Inofensivos ossos. Que podem ser revestidos de nervos, carne e vida, tal como
narrado em Ezequiel 37:1-14. Nervos, carne e vida são exatamente a fé.
Por isso,
o inverso da fé não é a dúvida, mas o medo. O medo de pensar pode levá-lo a
jamais questionar as razões de sua crença. E se você simplesmente camufla suas
dúvidas e esconde este esqueleto, jamais poderá estudá-lo de perto, compreendê-lo
e ter sua fé fortalecida.
Fortalecimento
da fé não se trata de ter certezas absolutas sobre todas as faces de Deus. Por
exemplo, minha fé se fortalece quando entendo e concluo que determinada
pergunta simplesmente não tem resposta. Ler, pesquisar, conversar e até mesmo
orar sobre determinada pergunta e entender que ela simplesmente é insolúvel é
diferente de assinar um “contrato eclesiástico” de aceitar doutrinas como
dogmas e meros pontos finais”. Até entendo quem diz que “a Deus não se pergunta
“por quê?”, e sim “o quê?”, mas até essa sentença merece uma pergunta: “por
quê?!”. Assim, entendo a dúvida como um caminho natural para a fé. E o medo
como o maior inimigo desta.
Pensando
nisso, escrevi, certa vez, o “POEMA DA DÚVIDA”, que você pode ler clicando aqui.
Há alguns
anos, ouvia com minha esposa, na época apenas namorada, uma canção romântica
cujo refrão dizia “Quero dúvidas em mim,
quero duvidar enfim, quero duvidar do nosso amor”. Parecia estranho a ela
que eu gostasse dessa letra, mas eu dizia que se nosso relacionamento não fosse
forte o suficiente para ser questionado e assim ainda mais fortalecido, ele não
era forte o suficiente. Da mesma forma, se você crê em alto tão frágil que não
pode ser questionado, este algo não é digno de crença.
Entretanto,
devemos ponderar que quem duvida deve duvidar construtivamente, pois quem questiona
apenas para desfazer a todo custo uma crença, com base em suas decepções
pessoais e preconceitos teológicos, apenas encontrará as respostas que
gostaria: de crítica ácida e destrutiva. É como um espelho que mostra apenas
o que queremos ver.
É assim
que me surpreendo com quem se diz convictamente ateu e não aceita discutir
sobre o assunto, como se acreditar em Deus fosse algo deplorável intelectualmente,
indigno de ser debatido. É o que considero ser a “intolerância dos tolerantes”.
Questionamentos honestos de um
coração sincero podem ofender o credo de sua igreja, mas certamente não
ofenderão a Deus, que criou seres pensantes, não restando a quem discorda
reclamar com o “fabricante”.
Por isso um
homem em Marcos 9:24 disse a Jesus: "Creio,
ajuda-me a vencer a minha incredulidade!". Por isso, por onde quer que
se passeie na Bíblia, se encontrará exemplos de “pecadores-hereges-desviados-questionadores”,
todos fora do armário da Palavra de Deus. Por isso, você não encontrará a
biografia de nenhum grande ícone do Cristianismo que não tenha passado por
profundas crises existenciais. O que muitos chamam “crise de fé”, parece bem
mais adequado chamar “crise de dúvida”.
Por isso sugiro a você que ainda
não duvidou que passe a duvidar para construir. E se você já é capaz disso, não pare no meio
do caminho. Avance, leia, converse, pesquise, ore e não ceda à tentação de ser
um ignorante convicto. Retire do armário o esqueleto da dúvida, disseque-o e
entenda-o.
Prossiga como um “fiel e
questionador” mais que como um “fiel questionador”. Enquanto não acha as
respostas, não abandone os fundamentos que o fizeram crer, até que humildemente
você perceba o quanto é gracioso e libertador não ter respostas para tudo. E
lembre-se: quem duvida nunca deve estar sozinho. Precisa estar livre pela
Verdade (João 8:32) e certo de que é amado, compreendido e cercado daquilo que suplanta
qualquer dúvida ou certeza: Amor. Afinal, não é assim que Deus faz conosco? Sem
dúvida!
“Estai sempre
preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão
da esperança que há em vós”. 1 Pedro
3:15-b
6 comentários:
Hummm, que texto massa. Se garantiu, amigo. Texto primorosamente escrito!
Hummm, que texto massa. Se garantiu, amigo. Texto primorosamente escrito!
Parabéns pelo texto, Edilson!
Eu ja fui uma crente mais questionadora e pesquisadora..na época encontrei muitas respostas que fortaleceram a minha fé, mas confesso que algumas respostas eu já me esqueci!
A memoria é falha mesmo!
Mas sinto que preciso estudar mais os assuntos polemicos e intrigantes da Biblia, e queria voltar a dissecar o Apocalipse...
Quem sabe esse ano eu faça isso?
Caso sim, escreverei algo e mandarei para vc!
então, abraços e Deus abençoe.
Que bom, Fernanda! Graça, paz, leitura e fé para nós!
Edilson
Muito legal seu texto muito bem escrito para nossos dias onde poucos qustionam sobre varios aspectos na vida ,cm receio de nao aprovacao e aceitacao em um todo.Parabens e q Deus te dê a cada dia mais inspiracao para levar a mts a uma verdadeira reflexao.Bju na Tati. Vladia
Cara massa. Gostei muito.
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