sábado, 12 de janeiro de 2013

OS ESQUELETOS DO SEU ARMÁRIO

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Philip Yancey, em seu livro “O Deus (in)visível”,  me ajuda a formular as seguintes perguntas: você está absolutamente certo do que crê? Para você, Deus realmente existe? Se tivesse nascido no meio de um povo ateu (se bem que isso não existe), creria no mesmo Deus que acredita hoje?

D-Ú-V-I-D-A. Este é o nome do maior inimigo das religiões. Em regra, as igrejas parecem cobrar na porta de entrada um bilhete chamado “fé”. Dali para a frente, parece ter acesso somente quem assina um termo de compromisso de aceitar tudo o que for dito, sem mais questionamentos, “para o bem de todos e felicidade geral do céu”.

A religião, em geral, incluiu por sua própria conta um novo verbo no rol de pecados: “duvidar”. Assim, formam-se rebanhos em sua maioria de ovelhas que nunca olharam para o céu com um ponto de interrogação na testa, para que não sejam incluídas em outro rol: o dos “hereges desviados”. A religião, enfim, tem medo de perguntas. E costuma perguntar somente o que acredita saber responder.
Dúvidas são como esqueletos que todos temos e escondemos em nosso armário particular. Todos, inclusive você, têm medo de abrir seu armário e encarar aquele monstro. Por isso, o armário permanece fechado, inacessível. Pode ser que você morra sem abri-lo.

Contudo, tudo o que deveria fazer é abrir, retirar o esqueleto e dissecá-lo, para ver que ele não passa de ossos. Inofensivos ossos. Que podem ser revestidos de nervos, carne e vida, tal como narrado em Ezequiel 37:1-14. Nervos, carne e vida são exatamente a fé.

Por isso, o inverso da fé não é a dúvida, mas o medo. O medo de pensar pode levá-lo a jamais questionar as razões de sua crença. E se você simplesmente camufla suas dúvidas e esconde este esqueleto, jamais poderá estudá-lo de perto, compreendê-lo e ter sua fé fortalecida. 

Fortalecimento da fé não se trata de ter certezas absolutas sobre todas as faces de Deus. Por exemplo, minha fé se fortalece quando entendo e concluo que determinada pergunta simplesmente não tem resposta. Ler, pesquisar, conversar e até mesmo orar sobre determinada pergunta e entender que ela simplesmente é insolúvel é diferente de assinar um “contrato eclesiástico” de aceitar doutrinas como dogmas e meros pontos finais”. Até entendo quem diz que “a Deus não se pergunta “por quê?”, e sim “o quê?”, mas até essa sentença merece uma pergunta: “por quê?!”. Assim, entendo a dúvida como um caminho natural para a fé. E o medo como o maior inimigo desta. 

Pensando nisso, escrevi, certa vez, o “POEMA DA DÚVIDA”, que você pode ler clicando aqui.

Há alguns anos, ouvia com minha esposa, na época apenas namorada, uma canção romântica cujo refrão dizia “Quero dúvidas em mim, quero duvidar enfim, quero duvidar do nosso amor”. Parecia estranho a ela que eu gostasse dessa letra, mas eu dizia que se nosso relacionamento não fosse forte o suficiente para ser questionado e assim ainda mais fortalecido, ele não era forte o suficiente. Da mesma forma, se você crê em alto tão frágil que não pode ser questionado, este algo não é digno de crença.

Entretanto, devemos ponderar que quem duvida deve duvidar construtivamente, pois quem questiona apenas para desfazer a todo custo uma crença, com base em suas decepções pessoais e preconceitos teológicos, apenas encontrará as respostas que gostaria: de crítica ácida e destrutiva. É como um espelho que mostra apenas o que queremos ver.

É assim que me surpreendo com quem se diz convictamente ateu e não aceita discutir sobre o assunto, como se acreditar em Deus fosse algo deplorável intelectualmente, indigno de ser debatido. É o que considero ser a “intolerância dos tolerantes”. 

Questionamentos honestos de um coração sincero podem ofender o credo de sua igreja, mas certamente não ofenderão a Deus, que criou seres pensantes, não restando a quem discorda reclamar com o “fabricante”. 

Por isso um homem em Marcos 9:24 disse a Jesus: "Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!". Por isso, por onde quer que se passeie na Bíblia, se encontrará exemplos de “pecadores-hereges-desviados-questionadores”, todos fora do armário da Palavra de Deus. Por isso, você não encontrará a biografia de nenhum grande ícone do Cristianismo que não tenha passado por profundas crises existenciais. O que muitos chamam “crise de fé”, parece bem mais adequado chamar “crise de dúvida”.

Por isso sugiro a você que ainda não duvidou que passe a duvidar para construir. E se você já é capaz disso, não pare no meio do caminho. Avance, leia, converse, pesquise, ore e não ceda à tentação de ser um ignorante convicto. Retire do armário o esqueleto da dúvida, disseque-o e entenda-o.

Prossiga como um “fiel e questionador” mais que como um “fiel questionador”. Enquanto não acha as respostas, não abandone os fundamentos que o fizeram crer, até que humildemente você perceba o quanto é gracioso e libertador não ter respostas para tudo. E lembre-se: quem duvida nunca deve estar sozinho. Precisa estar livre pela Verdade (João 8:32) e certo de que é amado, compreendido e cercado daquilo que suplanta qualquer dúvida ou certeza: Amor. Afinal, não é assim que Deus faz conosco? Sem dúvida!

“Estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós”.  1 Pedro 3:15-b            



6 comentários:

Anônimo disse...

Hummm, que texto massa. Se garantiu, amigo. Texto primorosamente escrito!

Anônimo disse...

Hummm, que texto massa. Se garantiu, amigo. Texto primorosamente escrito!

Unknown disse...

Parabéns pelo texto, Edilson!
Eu ja fui uma crente mais questionadora e pesquisadora..na época encontrei muitas respostas que fortaleceram a minha fé, mas confesso que algumas respostas eu já me esqueci!
A memoria é falha mesmo!
Mas sinto que preciso estudar mais os assuntos polemicos e intrigantes da Biblia, e queria voltar a dissecar o Apocalipse...
Quem sabe esse ano eu faça isso?
Caso sim, escreverei algo e mandarei para vc!
então, abraços e Deus abençoe.

Anônimo disse...

Que bom, Fernanda! Graça, paz, leitura e fé para nós!

Edilson

Anônimo disse...

Muito legal seu texto muito bem escrito para nossos dias onde poucos qustionam sobre varios aspectos na vida ,cm receio de nao aprovacao e aceitacao em um todo.Parabens e q Deus te dê a cada dia mais inspiracao para levar a mts a uma verdadeira reflexao.Bju na Tati. Vladia

Unknown disse...

Cara massa. Gostei muito.

Por Edilson de Holanda