quarta-feira, 18 de setembro de 2013

ESSES NÓS

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Já sabia que seria difícil, embora talvez não fosse essa a sensação de quem me visse às vésperas de seu “até logo”. Não sabia ao certo o que me ocorreria no coração, na mente, em meio a tanta tensão na programação deste “até mais”.

Somente após chegar do aeroporto, abrir a porta de casa, acender a luz, sentar no sofá, sozinho, e ouvir o barulho do silêncio, me veio a resposta exata de como seria. E de como está sendo. Resposta que veio não exatamente no peito nem na mente, mas na garganta.

Em forma de nó, que me tomou por dentro e permanece, horas mais folgado, hora mais apertado, mas um inapelável nó. Que me tem acompanhado e, já sei, me perseguirá até que eu possa te encontrar de novo para ver teu choro de alegria ao meu ombro cobrir teu pranto de medo ao telefone. 

Onde precisamente está você? Como está você exatamente agora? Está abrigada? Agasalhada? Ah, são tantas perguntas. Como é difícil não poder cuidar de você. E não poder te trazer para o meu peito, para esperar as tempestades passarem e o dia amanhecer de novo.

Minhas noites, não sei se são dormidas ou oradas, nessa cama em que seu lado permanece seu, pra que nem de longe eu me acostume com sua ausência. Acordo na madrugada, de vez em quando e não sei se sonhei com você ou se estava em meio-sono sussurrando ao Pai que te afague e resguarde, de tanto que faço isso durante as horas do meu dia. O fato é que desperto, me ajoelho como todas as manhãs e continuo minha doce e prazerosa missão: a de tentar proteger você, mesmo de tão longe.

E vem uma paz, que ultrapassa o nó da garganta, embora não o desfaça, me acalmando, pois Ele cuida de você. E de mim também. Não pediria aos céus para desatar esse nó. Quem sou eu para questionar espinhos na carne, nós na garganta e bradar contra Deus por minha humanidade? É provável que esse Deus que ama a sofre responderia, de pronto e docemente: “meu filho, com o nó da saudade só se engasga quem ama”
.
Tenho rabiscado algumas coisas num pedacinho de papel, impublicáveis, pois não gostaria de acrescentar a este texto a dramaticidade que ele não merece, nem lágrimas ao seu rostinho tão delicado. 

Ah, como quero que você não sofra. E como poderia eu estar bem se você não estiver? 

Cada vez que o nó aperta, me dou conta de outro nó: o que nos une. Este segundo nó, mais que um laço enfeitado, é um nó antigo, porém vigoroso; intenso, porém duradouro; singelo, porém resistente, dado em várias voltas amarradas umas por sobre as outras, para nos unir irremediavelmente. O Autor do nó só ata, jamais desata.

A dor do primeiro nó revela a dimensão do que é o segundo. Quanto mais percebo o nó da falta, mais entendo sobre o nó do meu amor por você.

E assim, de nó em nó, esse sentimento de ser metade se explica, a sensação de que falta algo aqui e aonde quer que eu vá encontra seu lugar e até mesmo cada detalhe dessa casa, que só faz sentido com você, conclui que vai mesmo esperar por você e que não há outro jeito nem outro sentido de verdade, até que você volte.

O certo é que escrevi isso não para mostrar, tal uma vítima, que estou de alguma forma sofrendo, até porque esse mundo é feito de dores e sofrimentos ainda mais lancinantes e indizíveis. E até porque em breve nos veremos de novo. Talvez tenha escrito, então, simplesmente para não perder a oportunidade de te contar, como sempre gosto, uma novidade do meu dia: que descobri mais de perto o que quer dizer mais uma palavra: “saudade”.

Em breve nos reencontraremos e do primeiro nó nem mais nos lembraremos. A não ser para cingirmos ainda mais o segundo, num abraço apertado e num beijo demorado de aeroporto. Pra sermos de novo nós.

Nós. 

Simplesmente nós.

5 comentários:

Tatiana Nunes disse...

Liiiiiiiiiiiiiido! Te amo muito, chorar por ler seus textos lindos eh bom, me sinto mais perto de vc ao ler suas palavras, sempre tão belas e cheias de amor! Te amo muito! muito mesmo.

Laryssa disse...

Hummm, arrasou!!!!

Otaciana Nunes disse...

Muito liiiiindo Edison! Cada vez mais me sinto uma pessoa agraciada por Deus por Ele ter colocado na minha família uma pessoa tão especial como vc para fazer a felicidade da minha filha. Agradeço a Ele de todo meu coração pela união de vocês. Que Deus continue lhes abençoando todo tempo.

Fabiana Melo disse...

Sei bem como é essa saudade. Por vezes não sei colocá-la em palavras, mas sei como é. Belíssimo texto, Edilson. Mas que ela volte logo!!!

Poliana disse...

Amigo, com a sua sensibilidade de poeta, você conseguiu enxergar muito bem que o primeiro nó, em verdade, só serve para exaltar o segundo, que é muito maior, "indesatável".

Deus estará cuidando de você, aqui, e dela, lá.

Abraços!

Por Edilson de Holanda