sábado, 3 de julho de 2010

BRASIL: A DERROTA DO EGO

Partilhar
Os brasileiros, em inúmeros aspectos, padecemos de certo complexo de inferioridade. Paradoxalmente, o fim de nossa jornada nesta Copa se deve a um Ego desmesurado, inflado, inchado, hipertrofiado. Após o fracasso de 2006, na Alemanha, o nome escolhido para dirigir a seleção foi o mais conveniente possível ao chefe da CBF, Ricardo Teixeira. 

Dunga, que nunca havia sido técnico sequer de time de totó (pra vocês do sul, pebolim), seria aquele que não teria (como não tem) gabarito algum para questionar qualquer ordem do mandatário [... ... ...]

Para aqueles que não sabem, Felipão foi campeão em 2002 desafiando Teixeira, que retaliou o treinador por não ter convocado Romário para aquela Copa. O que não se esperava era a postura mesquinha e totalitária do atual (ou, a essa hora, ex) técnico da seleção para com todos, incluindo torcedores e imprensa.

Despreparado e inexperiente, Dunga também foi “pouco inteligente”. Todos sabiam que seu trabalho seria questionado a toda hora. E, mesmo após ganhar a Copa das Confederações, Copa América e Eliminatórias da Copa, a teste de verdade seria a Copa do Mundo.

Dunga reagiu às críticas e desconfianças da pior forma possível. Mesmo quando vencia, parecia ter uma espinha na alma. Não comemorava. Preferia atacar os jornalistas antes mesmo de qualquer pergunta. Estava sempre de mal humor. Deselegante (e nem estou falando de suas roupas ridículas), mal-educado, grosso, boca-suja...

O apse se deu na própria Copa, quando quebrou o acordo entre CBF e Rede Globo, ao se negar a conceder entrevista exclusiva, e mirou sua metralhadora para o “inofensivo” Alex Escobar, que, filiado ao jornalismo esportivo da Globo, não cheira nem fede.

O constrangimento foi tal que Dunga já estava demitido antes mesmo de saber se iria ou não chegar à final da Copa. É que Ricardo Teixeira teria que decidir: ou Dunga ou a Globo.

Nunca tive tanta dificuldade de torcer para a seleção como na Era Dunga. Queria que a seleção não fosse tão bem na última Copa América, pra ver se ele caía. Mas venceu e eu pensei: essa vitória pode custar muito caro. E o valor está se contabilizando agora.

O ego de Dunga é grande demais. Essa foi a principal causa da queda brasileira. Adepto de um futebol de “brucutus”, Dunga, conseguiu formou uma seleção de brucutus. Abandonou o futebol-arte, que sempre nos caracterizou, e tornou a seleção um time burocrático, previsível e limitado.

Uma seleção medrosa, que jogava como time. E como qualquer time, sem brilho especial, poderia perder a qualquer momento. Diferente de nossas seleções anteriores, que todos sabíamos ter um "algo a mais" que intimidava a todos com um jogo mágico, imprevisível, "brasileiro", quase circense, esta era "fosca", sem graça e calculista

Por opção, convencimento e conta de Dunga. Formou sua “panelinha” e resolveu seguir com ela, não importando o que custasse. As críticas eram o combustível que precisava para se incrustar em seu mundo e não abrir os olhos para o que lhe rodeava.

À medida que o tempo foi passando, os jogadores de sua confiança perderam a boa forma física e/ou técnica. E chegamos à Copa assim: vários jogadores dunguistas reservas em seus próprios clubes e outros sem condições físicas de disputar um torneio.

A atitude de quem está disposto a rever seus conceitos se preciso seria a de repensar a escalação. Afinal de contas, de que adianta a história de um jogador se ele não pode fazer jus a ela?

Foi assim que Kaká, aquele que sempre destoou dos brucutus e resolveu as partidas, não pôde resolver dessa vez. São fortes os indícios de que ele terá sua carreira abreviada, tal qual Guga.

Todos sabiam que no elenco de Dunga não há jogador para substituir Kaká. Mas fora da panelinha do Dunga há. E não foi à Copa.

E de que adianta um jogador ter feito boas partidas há 3 anos se hoje nem mesmo titular de seu clube ele é? Cito como exemplo o goleiro Doni.

E como pode estar na seleção o jogador eleito pior da temporada, incontáveis vezes expulso no campeonato italiano, no ano em que seu clube fez a pior campanha nos últimos 40 anos? FELIPE MELO. Um autêntico brucutu.

Apesar do passe para o gol, ele protagonizou o primeiro gol contra do Brasil em Copas do Mundo, errou na marcação no segundo gol laranja e pisou desonestamente um holandês, para fechar o caixão nacional de uma vez por todas, ao ser expulso.

Após o jogo,  o jogador disparou: "Não tive intenção. Eu tenho força suficiente pra quebra a perna dele".

Aliás, pela primeira vez na história das copas, um jogador faz um gol contra e é expulso em uma mesma partida.

A derrota de hoje foi pior que a de 2006, contra a França. Pois naquele ano, com a seleção repleta de craques, foi surpresa a eliminação precoce. Hoje não. Todos sabiam (até minha mãe, que não sabe o que é um escanteio) que o Felipe Melo poderia a qualquer momento ser expulso, bastando estar em campo.

E que se o Kaká estivesse mal, os jogadores que o poderiam substituir não estavam na África.

Quem pensava que “volante” era só aquela peça do carro, hoje sabe que não é. Inúmeros volantes e poucos jogadores capazes de mudar um jogo. Esse foi o Brasil.

Nunca foi tão fácil ser vidente.

Como retaliação às críticas sofridas, Dunga realizou inúmeros treinos secretos, quebrando uma tradição da seleção canarinho, como forma de deixar a imprensa sem pauta. Conseguiu. Não sei se você percebeu, mas não foram poucas as reportagens sobre zebras, elefantes, vuvuzelas e Nelson Mandela. Não havia pauta esportiva e ser feita.

Até mesmo Felipão, que não é nenhum lorde, soube reagir às críticas que recebia e trouxe a imprensa para seu lado, criando um clima amplamente favorável para o elenco.

A concentração da seleção era um quartel general (uma contradição, pois se o técnico levou apenas aqueles em quem confiava, não havia porque trancafiá-los). Na briga inexplicável contra tudo e todos, a seleção refletiu na Copa a postura do técnico.

Um time desequilibrado, melindroso e enervado. A cara de um técnico que criou um guerra de nervos em que só ele estava no ringue. Até Kaká partiu para o ataque em entrevista coletiva e foi o jogador mais indisciplinado do elenco (vide número de carões amarelos e o vermelho que tomou).

Quando esteve atrás no placar pela primeira vez (hoje), a seleção não jogou. Morreu. Apagou. Não conseguiu concatenar pensamentos e passes. Nessa hora faltou um técnico no banco.

Em vez de mudar o jogo, como fazem os treinadores, Dunga se limitava a esmurrar o banco de reservas. Deve ter olhado para o seu amado banco (ou bando) e pensado: “e agora?”

O Ego de Dunga, que reflete frente às câmeras uma certa raiva da vida, afundou a seleção. Ao permanecer inerte frente aos evidentes absurdos de sua escalação. Ao apostar que justamente seus “queridos pupilos”, como o “doce” Felipe Melo, lhe dariam o título, mesmo ante à multidão de conselheiros que tentaram lhe abrir os olhos.

Ao não se quedar ante à clareza de sua incompetência, quando deveria pedir conselhos, mudar posturas e adotar um “plano B”. Ao não adotar, em nome de seu orgulho, um princípio básico de liderança: posicionar em cada setor o indivíduo que melhor desempenha aquele papel.

Ao parecer (perdoe-me se aqui se consolidar um exagero) uma pessoa movida pela raiva, pela sede de vingança, que imotivadamente enxerga em tudo e todos adversários, que bem poderiam ser aliados.

Ao imprimir sua personalidade no grupo que dirigiu, disseminando um clima de tensão constante que se revelou em todos os jogos dessa Copa e explodiu na partida de hoje (por isso não houve em seus jogadores equilíbrio emocional para reagir).

Ao preferir esmurrar o que estivesse próximo (no caso, um banco de reservas, na falta de um jornalista) a raciocinar sobre uma orientação ou modificação tática.

Aliás, acredito que esta figura define bem Dunga como técnico: alguém que prefere esmurrar a raciocinar.

Lição de hoje – parte 1: não deixe seu ego lhe cegar. Afinal, “a soberba precede à ruína; e o orgulho, à queda”. (Pv 16:18). Respire, pense, acalme-se e pense: é bem melhor ser feliz do que ter razão.

Lição de hoje – parte 2: Ouça opiniões contrárias e pese, pois “onde não há conselho, frustram-se os projetos; mas com a multidão de conselheiros se estabelecem”. (Pv 15:22)

Pensando bem, foi boa a eliminação do Brasil. Afinal, se ganhassem não seria a seleção brasileira, mas a seleção do Dunga. Que deveria estar feliz, pois sempre disse que  seu objetivo era  "que os jogadores tivessem comprometimento". Tiveram. Tanto que são sua imagem e semelhança. Por isso perderam como timinho. Timinho de anões zangados.

É por isso que, na vida, não basta estar convicto. Devemos estar convictos da coisa certa.

E foi assim que Dunga caiu: abraçado com seu Ego. Como até minha mãe previa.

2 comentários:

Bem Casada disse...

Eita que texto bom.....vou colocar no meu!!!! amei!!!

Edilson de Holanda disse...

Oi Manu,

Nos vemos na quarta!

Paz...

Por Edilson de Holanda