quarta-feira, 31 de março de 2010

FINQUE AS ESTACAS DE SUA VIDA

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Às vezes penso seriamente que a ignorância é uma bênção. Ignorância no sentido de falta de conhecimento. Viver sem maiores preocupações (ou ocupações), deixando tudo acontecer por sua própria vontade, sem nenhuma interferência da minha parte, não me importando com o que virá ou com o que pode deixar de acontecer se eu resolver ou não agir [... ... ...]


Mas não apenas não tenho tentado fazer isso como suspeito que não conseguiria, pois na medida em que isso me custasse esforço – pelo fato de não ser algo que me é natural - já significaria um empenho por uma causa (a de não ter causa alguma), o que anularia a tentativa de viver descompromissadamente. Entendeu?

Sendo assim, não me resta (nem a nós, acredito) outra alternativa senão reconhecer o que realmente dá sentido à existência. E, mais que isso, viver de forma a honrar aquilo em que acreditamos.

Um colega de faculdade certa vez me disse: “Você é tão medíocre ao ponto de precisar de uma razão para viver? Eu respondi, sem pestanejar: “Sim”. Nenhum projeto vai à frente sem um objetivo, nenhuma vida faz diferença sem uma razão de existir.

O importante, entretanto, não é ter todas as respostas, como disse alguém metido a poeta:

“Bem melhor é não conhecer
Mas viver sempre a buscar
Que pensar tudo saber
E em seu mundo se incrustar”

Importa mesmo ter a sede de fazer a vida valer a pena. Enquanto incansavelmente se busca, mesmo que isso demore toda a vida, pode ser que neste caminho se promovam inúmeras pequenas felicidades, que farão ver, ao final, que a busca, na verdade, é que fez todo o sentido.

Uma amiga já me disse: “Surgirão muitas oportunidades, mas temos que definir se nossa vida será guiada pelas circunstâncias ou por nossas prioridades”

Quais são suas prioridades? Algumas pistas para identificá-las: O que o move a levantar da cama e enfrentar o dia? Em que você mais investe tempo e esforço? Do que não abriria mão? O que mais sonha em conquistar? Imaginando-se no final de sua vida, o que o faria feliz em saber que realizou?

Responder a essas perguntas o ajudará a listar as coisas mais importantes de sua vida. Talvez você tenha observado que muito do que falamos serem nossas prioridades na verdade não são, pois não lhe damos a relevância que merecem.

Ocorre que sempre estamos diante de várias portas (oportunidades), dentro das quais existem inúmeras outras, e assim por diante. Somos obrigados, todos os dias, a escolher (e até mesmo não escolher já é uma escolha). Muitas dessas portas não têm volta. Daí a importância de ter sempre em mente: “QUAIS SÃO AS MINHAS PRIORIDADES?”

Esta também é uma ótima forma de definir como agir em algumas encruzilhadas da vida.

Um profissional liberal passa por um dilema: realizar ou não um negócio ilícito que lhe resultaria em muito dinheiro, mas que ninguém jamais perceberia e que não prejudicaria ninguém diretamente. A pergunta seria: qual minha prioridade: ser próspero financeiramente ou agir com caráter, honrado os valores éticos que diz acreditar e dando um exemplo de honestidade para seus filhos?

Um jovem tem que decidir: assistir ao vivo à final de um torneio mundial em que seu time jogará (e que ele esperou por toda a vida) ou estar, no momento do jogo, na companhia de um amigo, que passa por uma séria crise emocional e ligou pedindo ajuda. A pergunta é: o que é mais importante para mim: não perder os momentos históricos de meu time ou construir e valorizar as amizades, me comprometendo a ser presente nos momentos em que meus amigos precisam?

Uma mulher, voluntária em um trabalho social ou parte de um grupo de relacionamentos de uma comunidade religiosa, em que a presença de cada membro é necessária, tem que decidir: ir a mais uma reunião ou dormir por mais duas horas. A pergunta seria: qual minha prioridade: manter-me fiel ao grupo e seus ideais, os quais eu mesmo professo, valorizando as pessoas que também se esforçaram para estar ali ou dormir mais um pouco, já que a semana foi cheia?

Enfim. Seriam inúmeros os exemplos. Entre nossas prioridades, passeiam as circunstâncias. Corremos o risco de passar a vida dando voltas, tangenciando nossas prioridades e preenchendo as lacunas de nosso tempo com as circunstâncias que nos surgem.

As pessoas que mais admiramos, por grandes feitos ou entrega a causa nobres, não nasceram já como exemplos. Ninguém pense que Madre Tereza de Calcutá naturalmente era uma pessoa abnegada, que Mahatma Ghandi sem nenhum esforço fez uma revolução sem armas ou que J’sus Crist’ não precisou abdicar de seus atributos divinos para cumprir sua missão e morrer em uma cruz em favor da humanidade.

Os grandes nomes da história empregaram esforço, empenho e resignação, para que as circunstâncias não sufocassem suas prioridades. Abriram mão de grandes e pequenas oportunidades em prol do que realmente importava.

Um desafio: fazer o que realmente importa. Hoje. Afinal, para nós o futuro não existe e a morte não tem hora marcada para nos surpreender

Por isso – e já me perdoem pelo texto tão longo - é urgente que cada um de nós finque as estacas de nossas vidas. Fincar estacas é estabelecer e dizer, em alto e bom som, quais são as nossas prioridades pessoais. Se não está claro, se comprometer a buscá-las e fincá-las o mais forte possível.

E, a partir daí, viver de modo a conjugar palavras e gestos. Ou pelo menos tentar. Grande é o homem reconhecido por seus atos, independente de ser sido ou não conhecido por suas palavras.

Por isso, quero aqui fincar minhas estacas. E desafio você a fazer o mesmo.

Estaca 1. O maior desafio de minha vida é me tornar parecido com J’sus Crist’ (que é D’us). Pense! Tenho convicção de que não consigo compreendê-lo como É. Sei que Ele não está limitado às podas de uma religião, muito menos de uma cultura.

E como estou limitado a um reduzido espaço do mundo, minhas chances de compreender seu agir são ainda menores. Mas estou feliz por saber de seu amor por mim, capaz de fazê-lo se igualar a um de nós e nos presentear com a salvação da alma.

E que “Ele cante em tudo e que não fique mudo, morto em mil catedrais”. Quero aprender a ser íntimo dEle, amá-lO antes de tudo, segui-lO e enxergá-lO ainda mais. Assim, sei que serei aperfeiçoado à Sua imagem.

Estaca 2. Pessoas valem mais que impulsos, sentimentos, coisas e instituições. Quero aprender a amar aos outros como a mim mesmo. Foi assim que o Mestre ensinou. Fincando estas duas primeiras estacas, estarei fazendo o suficiente. Tão simples quanto impossível de cumprir com minhas próprias forças.

Quero aprender a me importar com os outros sem esperar nada em troca, a tomar a iniciativa de me doar, a perdoar independente de merecimento, a não agir com indiferença e privilegiar o amor à justiça. Só D’us é capaz de me tornar capaz para tanto. Por isso acredito nisso.

Estaca 3. Acredito na Família e pretendo construir uma. Acredito nos papéis de esposo, esposa, pai, mãe, filhos e irmãos. Quero amar minha esposa e desejo que este amor seja o maior exemplo que possa dar aos meus filhos.

Quero educá-los de forma a dar-lhes condição de escolherem viver acima da mediocridade. Pretendo lutar pela integridade de meu núcleo familiar, sabendo que um homem que não consegue liderar sua casa não pode liderar coisa alguma.

Estaca 4. Acredito ainda em outra família da qual faço parte: daqueles que se rendem a D’us e tentam fazer disso um estilo de vida. Esta família não está limitada a templos ou casulos.

Esta família é capaz de manifestar inúmeras facetas divinas, na medida em que não age como se fosse superior ao resto do mundo, não se enclausura em emaranhados de regras vazias e não cava cisternas rotas para ali se isolar.

Estaca 5. Creio na força da amizade descompromissada e ao mesmo tempo fiel, leve e ao mesmo tempo decisiva, que marca momentos e ao mesmo tempo perdura. Amigos são colunas que se apóiam em outras colunas. Quero ser uma delas.

Estaca 6. Minha alma não está à venda. Aprendi os valores da honestidade e da integridade, não desaprendi a cultivá-los e não estou disposto a negociá-los. Por isso, se alguém espera me ver rico ou gozando de grande status, se depender da venda de minha vergonha, não verá.

Confesso ser muito difícil remar contra a maré. Sou tão passível de cair quanto qualquer outra pessoa, mas isso não me impede de fincar esta estaca passar este ideal adiante. Cada vez que apresento uma falha de caráter, vejo que a estaca ainda continua firme. Um homem que se vende recebe muito mais do que vale.

Estaca 7. Sou idealista. Todo ser humano deixa um legado. Devo escolher qual será o meu e cuidar dele. Não acredito que posso mudar o mundo inteiro, mas posso mudar todo o meu mundo.

Embora D’us não esteja comprometido em realizar todas as minhas vontades (e tenho que ser realista para admitir isso), tento superar todas as minhas crises de fé para entender que, para aqueles que crêem em D’us, a esperança não é a última que morre, pois Ele é a própria esperança.

Estaca 8. A vida não é um tratado. Por isso tento encará-la de forma leve. Não é fácil. Mas nem tudo foi feito pra ser levado a sério. Rir é necessário. E, se não cura, muitas vezes alivia.

Estaca 9. Quero usar os dons, talentos, circunstâncias e oportunidades para encravar as estacas acima.

Estou em construção. Tenho muitas dúvidas, crises e me enxergo conhecendo e sabendo cada vez menos, à medida que vejo serem tão complexas as questões da vida. Mas sei que D’us me entende. Se escrevesse este texto há cinco anos, ele não seria o mesmo.

Se o reescrever daqui a dez, já não será a mesma coisa. Talvez as estacas estejam pintadas com outra cor ou eu tenha esculpido algumas figuras na madeira. Mas eu já as finquei. E não as quero arrancar.

Bem, já plantei uma semente de feijão em um algodão, na época da escola. E já devo ter plantado alguma árvore em uma dessas campanhas ecológicas do colégio. Mas, para me resguardar, providenciarei por esses dias o plantio de uma. Já disse que pretendo ter filhos. Quem sabe este blog vire um livro... Mas a vida é bem mais que isso...

Finque suas estacas!

5 comentários:

Anônimo disse...

Diversas considerações a fazer sobre o texto, pois o assunto abordado certamente dá margem para muita conversa e reflexão. Quem sabe qualquer dia desses, quando Miss Janes nos receber na sala de estar dela, hein? ;-) Enquanto isso, acho que vou passar o dia pensando sobre as minhas estacas, rs...

Abraços!
Poli

Edilson de Holanda disse...

Leitora fiel,

Ler este texto deve ter sido um exercício de paciência! Valeu...

Valeu por passar por aqui. Com certeza, eleva o nível das discussões!

Abração!

Unknown disse...

Muito boa a reflexão,

Deus ilumine a sua inspiração,

A mensagem é animadora e profunda,

Parabéns,

IGOR.

Anônimo disse...

Ei, meu amigo!

Passando só para dizer que hoje senti necessidade de revisitar esse seu texto, pois ele me ajuda a deixar acesas na memória coisas muito relevantes ;-)

Que seu talento com a escrita continue sendo usando para a glória de Deus!

Abraços
Poli

Edilson de Holanda disse...

Valeu, Poli...

Por Edilson de Holanda